
Correio de Notícias : Como você avaliaria o momento da Rádio Pajeú, 50 anos depois de sua fundação ?
Nill Júnior : Acredito que depois de sua era de ouro, onde não disputava com a televisão e tinha gênios do rádio como Valdecyr Menezes e Pe. Assis Rocha, ela vive hoje seu melhor momento. A nova programação instalada em abril de 2002, a volta de Anchieta Santos, o foco para o jornalismo e a prestação de serviço, o sinal correndo o mundo pela internet, o reconhecimento regional, estadual e até nacional com o prêmio Microfone de Prata, tudo isso contribuiu para que a emissora cumprisse hoje seu papel histórico. Claro que ainda temos o que avançar, mas avançamos muito em pouco mais de sete anos de trabalho.
Correio de Notícias : E pra onde a Pajeú deseja ir ? Dá pra dizer que a emissora chegou ao seu ápice ?
Nill Júnior : De forma alguma. O próximo passo é expandir seu raio de ação. Uma emissora de 50 anos com apenas um quilowat de potência é uma emissora em débito com sua própria história. Estamos estudando a possibilidade de aumentar em 100 a 200% sua potência. A meta é chegar de 2,5 a 3,0 quilowats. Assis, ela vai chegar com tranqüilidade em toda a Diocese, já que é uma emissora Diocesana e abranger outras regiões do estado e da Paraíba. Outra meta é ampliar ainda mais o tempo da emissora no ar. Avançamos muito com a chegada de dois novos programas (Acorda Sertão e Em Dia com a Noite) e estamos das 04h até a meia noite. Mas quero mais. Não com programação gravada, sem comunicador, sem vida. Meu sonho é faze-la 24h ao vivo. Também precisamos ampliar a participação de comunicadoras, o que não é fácil, pois me parece mais difícil achar boas comunicadoras para rádios no nosso formato. Mas temos que fazer. Aqui ta muito um “Clube do Bolinha” (risos).
Correio de Notícias : Quais os problemas mais comuns enfrentados pela Pajeú hoje?
Nill Júnior : O mesmo de todas as rádios, o financeiro. O fato de a emissora ser da Diocese foi importante na nossa chegada, pois dissemos a Dom Luis Pepeu, quando convidados que queríamos fazer nossa parte, mas a emissora precisava de um apoio financeiro para que tivéssemos o mínimo de condições de trabalhar. Isso foi feito e somos muito gratos a ele. Mas a Rádio não poderia depender sempre da Diocese. Feito isso, tínhamos que andar com nossas próprias pernas. Não foi fácil, tivemos no início que enxugar o quadro, foi duro porque demitir é dar pêsames, como diz o Monsenhor João Carlos Acioly. E hoje dá pra viver que não temos condições de fazer o que gostaríamos por limitação orçamentária. Um paso que acho que podemos dar é ampliar a participação dos sócios contribuintes, que Dom Francisco enxergava como a salvação da emissora. Estamos estudando isso a partir desse processo de reforma.
Correio de Notícias : Nesses sete anos, qual foi o momento mais difícil que a emissora enfrentou ?
Nill Júnior : Acho que as demissões. Quando ficou claro que não havia outra alternativa para a rádio continuar administrável e foram anunciados os demitidos foi muito triste. E continua sendo porque talvez uma ou duas das pessoas que foram demitidas ainda falem comigo hoje. Havia pessoas que tinham uma relação mais próxima e hoje nem me cumprimentam. Fico triste, mas entendo o lado delas. Só que a rádio tinha duas opções : ou enxugava à época ou não pagava o justo e legal. Não restava opção. Mas que foi triste, foi.
Correio de Notícias: A Rádio Pajeú eventualmente é questionada por sua posição política. Como você reage a isso ?
Nill Júnior : Acho que já estou escaldado de falar sobre isso, antes me irritava, hoje até compreendo mas tenho inúmeros argumentos para me contrapor a isso. O problema não é com a população. O povo reconhece nosso trabalho e nos dá prova disso com audiência. Quem mais reclama são os políticos ou os mais próximos deles. E a regra é a mesma, independente de quem esteja no poder ou na oposição, pois já lidamos com os dois principais grupos na oposição e no poder. Quem está no poder geralmente reclama porque a emissora dá espaço à oposição, diz que a oposição não é nada na ordem do dia e não deveria ter espaço. Reclama também se a população que tem microfone aberto na rádio reclama. Às vezes põem na mesa o fato de pagar à emissora, quando na verdade compram um serviço e o utilizam integralmente. Já a oposição reclama que o governo tem muito espaço. Aí eu pergunto : se houver um problema de esgoto estourado vou procurar o Secretário do Governo atual ou o da gestão passada, da oposição ? tenho que ir atrás do atual. Como há uma demanda normal sobre as ações positivas e negativas no município, há uma participação de representantes do governo estabelecido para responder tais questões. Como cidadão isoladamente não tenho poder para eleger um prefeito ou prefeita. Não sou eu sozinho que elejo Totonho, Giza, Júnior Moura, é o povo. Então falta à oposição entender que existe um governo e ao governo entender que existe uma oposição. E nunca vão entender porque querem cada vez mais força política. Como a Rádio, especialmente a Pajeú é um importante instrumento para os dois lados, fica no meio do fogo cruzado. Mas o povo que nos dá audiência entende nosso papel. Prova disso é nossa audiência e credibilidade.
Correio de Notícias : Mas tem comunicadores que fazem campanha de um ou de outro...
Nill Júnior : Isso a gente não pode coibir. Como você impede que o profissional deixe de ganhar cinco, dez, vinte, até trinta mil reais numa campanha ? O que a gente vive lutando é para que os colegas separem a posição pessoal da posição da emissora, que no final não tem posição a favor de nenhum político e sim do povo e da Igreja. Mas impedir, não pudemos.
Correio de Notícias : A Rádio é da Igreja Católica. Como vocês lidam com temas polêmicos como aborto e uso de preservativo, onde a Igreja tem uma posição tida como conservadora ?
Nill Júnior : A gente debate todos os temas. A diferença é que, ao contrário de outros setores da imprensa que faz um pré julgamento da posição da Igreja, nós trazemos a Igreja para o centro do Debate, sem censura da opinião da população, muito menos sem dar o espaço à Igreja. Um exemplo : A Igreja condena a pedofilia de sacerdotes, mas a imprensa coloca como se a Igreja fosse a culpada. Não, a Igreja condena, o culpado é o sacerdote, que geralmente é afastado de suas atividades e julgado como qualquer cidadão. O que não fazemos é generalizar como setores tendenciosos da Imprensa.
Correio de Notícias : Quem tem mais poder na emissora ? Você ou o Monsenhor João Acioly (Gerente administrativo)?
Nill Júnior : Na rádio, não existe “quem manda”. Sou muito grato ao Monsenhor João Carlos por aceitar o desafio de gerenciar a Rádio Pajeú. Sem ele e Dom Luis Pepeu, posso garantir, dificilmente teríamos tantos avanços. Ele cuidou pessoalmente da renovação inicial dos contratos, da estruturação da emissora, da questão trabalhista. Realmente é uma pessoa pela qual temos muito que agradecer. Claro que tenho meu papel na parte da programação, apesar de costumar ouvir muito os colegas antes de uma decisão. Eu diria que formamos um grande time que começa pelo nosso entrosamento. Temos discordâncias eventuais, mas muito mais pontos convergentes, senão não estaríamos trabalhando juntos a mais de sete anos. A nova Pajeú deve muito a ele.
Correio de Notícias : Qual o momento mais marcante da história recente da emissora ?
Nill Júnior : Tivemos vários. A cobertura das eleições que virou uma marca, a participação da população, o aumento significativo da audiência, as coberturas de eventos, a volta de Anchieta Santos à emissora, o prêmio Microfone de Prata, as entrevistas históricas, o futebol, a festa que conseguimos montar agora para os 50 anos. É muita coisa, não dá para separar um específico.
Correio de Notícias : Qual sua expectativa para a festa?
Nill Júnior : A melhor possível. Suamos muito, mas montamos uma programação à altura e o que é melhor, de graça para o povo. Não teria sentido trazer Agnaldo, Geraldinho Lins, Maciel, Vozes do Campo, se fosse cobrada entrada. Preferia não fazer. A Rádio Pajeú está verdadeiramente dando um presente à população que a ama tanto. Não estamos fazendo favor nenhum.
Correio de Notícias : Que nomes representam melhor a história da Rádio Pajeú?
Nill Júnior : Falar em nomes é cometer injustiças. Acho que seus dois fundadores, Dom Mota e Valdecyr Menezes merecem uma referência especial. Começaram tudo quando Pernambuco tinha pouquíssimas rádios. Fazer rádio no sertão, numa cidade pequena como era Afogados, numa região ainda muito mais pobre que hoje era um desafio. Hoje é muito mais fácil. Então eles merecem essa referência porque foram desbravadores. E geraram esse sentimento de amor pela rádio que parece que transcende a lógica. Todos que passaram pela emissora tem esse sentimento. Para se ter uma idéia, temos quase 50 profissionais envolvidos com a rádio Pajeú. Muitos deles são ligados a instituições e realizam trabalho com base na lei do voluntariado. Isso é amor pela rádio e pela causa. Então todos, de ontem e de hoje merecem essa homenagem.
Correio de Notícias : A festa termina dia 04 de outubro ?
Nill Júnior : Não, de jeito nenhum. Ainda teremos o lançamento de um livro que conta a história da emissora e nesse lançamento teremos um evento especial de homenagem a todos que não estão mais na emissora. Acredito que será antes do fim do ano. Vai ser a partir do dia 04, um ano de comemorações e eventos.
Correio de Notícias : Que frase resumiria a história da Rádio Pajeú ?
Nill Júnior : Chama-la de “a primeira do Sertão Pernambucano” já é algo que mostra sua história e importância. Mas gostei muito da frase que estampará a campanha publicitária da emissora em outdoors espalhados pelo estado, ,produzida pela turma da Link Publicidade : “Sintonia com a História de Pernambuco”.
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