sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

DOM EGÍDIO FALA DOS DESAFIOS QUE O CRISTÃO ENFRENTA NA SOCIEDADE MODERNA

Correio de Notícias: O que motivou Dom Egidio a optar por um serviço no Brasil?
Dom Egídio:
O que me motivou a ser padre no Brasil foi a constatação de que algumas dioceses deste País viviam em extrema carência de padres. Em 1976 quando aqui cheguei, tinha na diocese de Afogados da Ingazeira apenas 14 padres. Os papas, a partir da década de ’50 vinham convocando as dioceses da Europa com um bom número de padres para viver a partilha com as dioceses mais carentes. Dentro desse espírito a minha diocese mãe de Vicenza – Itália se comprometeu em ajudar a Igreja Irmã de Afogados da Ingazeira e eu me ofereci para vir trabalhar no sertão.

Correio de Notícias: Quais os desafios que o bispo pensa encontrar em uma região tão carente como a nossa?
Dom Egídio:
Estou voltando ao sertão depois de meses de ausência.
Primeiro compromisso será recolocar os pés firmemente neste chão.
Sei que vou encontrar alguns desafios dentro da própria Igreja: por exemplo, não é fácil viver a comunhão, manter a fraternidade e ter um trabalho em conjunto quando as forças vivas são muitas, firmes e diversificadas: paróquias, grupos, movimentos. ..
Acho que será um grande “trabalho” do bispo manter a unidade da Igreja Diocesana na fé e no serviço. Outro grande desafio será a formação de mais agentes de pastoral, o engajamentos dos leigos na vida das comunidades, a formação dos futuros padres etc...
Há também desafios que nos vêm da sociedade moderna. Penso por exemplo aos jovens e às muitas provocações que eles enfrentam todos os dias, ao mundo dos agricultores do semi-árido sem muitas perspectivas para o futuro, aos excluídos da sociedade, aos que não tem mais esperança, aos que se deixam levar pelo consumismo. Ajudar a viver a solidariedade e a partilha dentro da sociedade, a encontrar ou reencontrar o sentido da vida, a redescobrir em Jesus e no seu Evangelho o caminho e a força para a realização da pessoa e da sociedade faz parte do serviço do bispo.

Correio de Notícias: Hoje os jovens em sua maioria são mais ligados aos assuntos do mundo do que os espirituais. O que Dom Egidio pretende fazer para reverter essa situação? Dom Egídio:Já trabalhei no passado na coordenação da Pastoral da Juventude diocesana. Mas reconheço que hoje os tempos são outros, que os próprios jovens são diferentes porque a própria sociedade mudou.
Acredito que o primeiro passo será colocar-me à escuta da juventude para perceber seus anseios mais profundos e mais autênticos e a partir daí encontrar caminhos para uma ajuda mais concreta.
Graças a Deus nossa diocese pode contar com grupos de jovens em cada paróquia, que podem ser o “braço organizado” da diocese para uma pastoral juvenil mais eficaz.

Correio de Notícias: Recentemente a CNBB em um panfleto comparou Lula a Herodes por apoiar o projeto que descriminaliza o aborto e defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo, qual sua opinião sobre o assunto. Dom Egídio:Além dos tons acesos e polêmicos que o debate atual sobre temas tão importantes assume às vezes, a Igreja Católica continua apresentando e defendendo um conceito de vida humana e um ideal de casamento que ela tira das suas convicções humanas e religiosas: o respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural e a união estável entre um homem e uma mulher como ideal para a realização da pessoa humana e a educação dos filhos. Conceito e ideal, aliás, que não são exclusivos da Igreja, mas são partilhados por muitas outras pessoas e segmentos da sociedade. Defender e promover não significa impor, mas continuar apresentando tais valores, mostrando os limites das posições contrárias que podem ter conseqüências muito negativas para a própria pessoa e a sociedade. Pois é sempre através do debate forte e sincero entre as posições divergentes que a sociedade pode encontrar seu caminho para um crescimento verdadeiro a serviço da vida plena para todos.

Correio de Notícias: Qual a mensagem que o bispo deixa para a população desta Diocese? Dom Egídio:Minha mensagem é de esperança. Nossa diocese é “bonita” e organizada, tem uma história gloriosa de mais de 50 anos de missão, tem muitas forças preparadas e disponíveis, vive uma busca constante de fé profunda e união sincera entre todos os que a compõem. Tem então tudo para continuar sendo uma Igreja viva, que testemunhe hoje o Reino de Deus e seja instrumento de solidariedade e paz neste sertão do Pajeú. Caminhando juntos na esperança e no serviço poderemos realizar nossa vida e nossa missão.

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